quinta-feira, 13 de novembro de 2008

EU SOU A NORMA: VIVER E TER UMA VIDA MULATA EM UMA SOCIEDADE AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA PÓS-COLONIAL

Origens e disseminação na África lusófona

Não se sabe de onde ou aonde, quem o criou e ou o porquê que o mesmo surgiu, com cerca de Três a Quatro anos ouviu-se e surgiu na sociedade angolana, disseminando-se para outros países africanos de língua portuguesa, e Portugal pela diáspora destes e a influência cultural angolana em especial a música, comunidades virtuais, vídeos no you-tube, no intercâmbio na diáspora entre angolanos e demais lusófonos e por brasileiros imigrantes em Angola. Tanto os brancos, como os mulatos e pretos fazem o uso deste para ostentar e mostrar sua condição econômico-financeira ou apenas para demonstrar um estado efêmero de ostentação de um lazer e ou situação vedada aos pretos ou simplesmente por acharem a mesma bonita, e ou mera criatividade lingüística dos angolanos, já que ser mulato é ser a norma também estética e por não se ter a noção semântica do termo em si. Entende-se aqui a vida mulata como a norma, o ideal de ego para os não brancos e mulatos digo pretos. Assim a vida mulata é em si histórico-social, educacional, econômica, social, política, estética e ideológica, e em si um fato social. Histórico-social porque o mulato herdeiro transgeracional de uma estrutura colonial onde sempre foi tratado diferente do não mulato o autóctone, com benefícios por ser filho (a) de um colono branco/euro-europeu constituindo-se assim como uma sub-norma e norma após as independências africanas em especial nos países de língua oficial portuguesa. Educacional, pois teve condições e aceitação diferenciada no sistema educacional público oficial. Econômico porque herdou de seus pais e ou avós brancos a condição financeira e a garantia de vida e condição social melhor no pós-independência. Social porque dentro da sua identidade “quase-branca/sub-norma”. Política porque se organizaram e sonhou herdar a estrutura administrativa e política de seus pais e ou avos brancos, a colonial. Estética porque tornaram-se a norma o ideal de ego para os pretos na falta do branco. Ideológico, pois herdaram uma estrutura psíquica psicopatológica transgeracional e continuaram a se auto-distinguir e a tratar de forma diferenciada o não branco e não mulato, subentende-se aqui pretos, herdando e obtendo a nacionalidade dos pais e ou avos, operando dessa forma no novo espaço geopolítico de forma bi-volt.

A vida mulata

Termo usado para demarcar o território subjetivo e concreto dentro de sociedades africanas de língua portuguesa, o mulato aqui é analisado como categoria sócio-histórica racial porque sempre houve sua diferenciação dos demais não brancos no período pré e pós-colonial. Então o que é ter uma vida mulata ou viver uma vida mulata: a vida mulata é o lugar de vantagem estrutural nas sociedades constituídas por uma estrutura de dominação racial, é o “ponto de vista”, um lugar a partir do qual o mulato se vê e vê o preto e a ordem territorial nacional, é o locus de elaboração de sua identidade ancestral euro-européia, marcadas previamente com a colonização e não denominadas como nacionais ou normativas, já que se vive em um Estado Nação de maioria populacional nativa africana. É o local onde o mulato faz a vez do branco colonizador na falta do mesmo, a partir desse locus comumente redenominado ou deslocado dentro das denominações étnicas ou de classe, fortalecendo-se como marcador de fronteira entre ser branco e ser preto. Assim a vida mulata é o lugar de privilégio. Embora não seja contemplada por privilégios absolutos, é atravessada por uma gama de vários eixos de privilégios ou subordinação relativos. Estes não se apagam nem tornam irrelevante o privilégio “racial”, mas o modulam ou modificam. A vida mulata é produto histórico e uma categorial relacional, pois é em relação ao preto que ela se impõe. Não possui significado intrínseco, mas detém e age a partir de seus significados socialmente construídos e cristalizados por mecanismos cristalizadores ou naturalizantes. Os significados da vida mulata têm camadas complexas e variam localmente, assim seu significado pode parecer simultaneamente maleável e inflexível. O caráter relacional e socialmente construído da vida mulata não significa, convêm enfatizar, que esse e outros lugares sejam irreais em seus efeitos materiais e discursivos sobre quem e como se vive como mulato. A estas heranças, vantagens e privilégios nós denominamos por MULATIDADE. A mulatidade é também entendida por nós como uma psico-sociopatologia. Segundo Adler o sentimento de inferioridade convive com o desejo de superioridade. A patologia-protesto do mulato consiste no “branco”, assim como não é branco segundo critérios europeus, afirma-se por duas vias: lembrando ansiosamente sua ancestralidade branco-européia e estudando o preto como um objeto, negando a ancestralidade preto-africana em sua constituição bio-subjetiva, ao lado de quem sua brancura é ressaltada.

O caráter da dominação, discriminatório e racista da “Vida Mulata

A independência e o pós-colônia, apesar da transferência política de brancos para pretos e mulatos, não representou a alteração da estrutura das relações sociais “a norma” na sociedade angolana. Da herança devastadora da colonização a independência nada conseguiu obter em relação à mudança da norma. A vida mulata é fruto claro da estrutura racialista e racista colonial herdada psiquicamente que se apresenta sob a forma do neo-racismo e uma neo-segregação em Angola, já que uma vida mulata é sinônimo de ter qualidade de vida. O que quer dizer que o mulato-branco, em regra geral, detém condição econômico-financeira e sócio-cultural melhor em relação ao preto. A condição desejável por todos brancos, mulatos e pretos, e que ser preto em Angola é não possuir e viver em uma vida não mulata, equivalente a maiores dificuldades sócio- econômicas. A estrutura sócio-econômica desigual entre branco-mulatos e pretos no período de dominação colonial, apesar da mudança no poder político pós-independência em especial nas décadas de 80 e 90 do século XX, manteve-se e se mantêm inalterada em termos hierárquicos ao longo dos anos de independência: no topo da pirâmide, pretos assimilados e brancos-mulatos, no meio os brancos-mulatos e na base os pretos, perpetuando-se, dentro dessa estrutura desigual colonial e por uma falsa identidade multirracial angolana, a angolanidade. Assim, em Angola ser mulato, em si já representa uma vantagem de cerca de 50%, dentro de uma estrutura político-ideológica e administrativa a seu favor. Por outro lado ser preto e etnicamente consciente é ter dificuldades para viver e ocupar cargos de maior relevância, sem necessariamente pertencer à maquina político-econômica.

O que é ser mulato e ter uma vida mulata em Angola

É apresentar-se como a própria norma e representar-se como o herdeiro do próprio branco-colono, o fruto “esquebra do colono” *, representa a usurpação dos direitos do preto, é ter prioridade na propaganda e meios de comunicação. É poder ter tido instrução acadêmica muito antes da criação de instituições de ensino público superior; ir à metrópole ancestral, Portugal, passar pela entrada de nacional e receber educação aos moldes dos avôs e pais. É poder entrar e sair da nacionalidade a angolanidade quando bem entender porque é ser possuidor de dupla nacionalidade em sua maioria portuguesa e angolana. Ser mulato é ter uma vida mulata é ser a norma, o signo, o símbolo e significado de status é ser rico economicamente e subjetivamente. E não ter vida mulata é ser preto e pobre economicamente e subjetivamente. É poder ter tido chance de não ser “rusgado”** ou “não-rusgado” pois foi resgatado pela nacionalidade portuguesa ou por um parente. Assim não ir à kwemba,*** “à fronte-guerra” e poder estudar e tornar-se um oficial na carreira militar. É passar pelo quatro de fevereiro sem ser importunado sobre sua situação militar e embarcar para o estrangeiro sem dificuldade e ainda encontrar uma tripulação quase que toda ela branca-mulata na TAAG. É sair e entrar, de forma segura e garantida da angolanidade. Durante os 30 anos de guerra, não ter sido mutilado em combate, mas ter tido e sido um oficial superior (coronel, brigadeiro, general) do exército, marinha, aeronáutica, inteligência.

E é saber que ao preto essa saída e entrada já foram previamente condenadas a uma quase impossibilidade. É poder sair às ruas e não se deparar com mendigos, pedintes, mutilados e dilacerados de guerra brancos-mulatos. Ser mulato é não viver no musseque**** é ser o asfalto. Ser mulato é poder viver de forma segregada e não segregada “em ambientes mulatos”, poder fazer e escolher o papel social e não fazer parte do lado dos excluídos. É poder se gabar que se vive na melhor sociedade africana onde a ancestralidade étnico-racial não importa afinal somos todos Manuéis, Pintos, Santos, Gutiérrez... É saber que os preto (as) sonham em ir para cama ou aparecer em público com um (a) mulata (o) símbolo de poder, conquista, e desgraça; já que o velho ditado afirma “se quiseres desgraça em sua vida compra uma Kombi, arranja uma sogra feiticeira e uma mulher mulata”. É ter a consciência de que se é à norma e de que vai continuar a sê-la por um tempo não demarcado. Logo isso é a VIDA MULATA na terra da “democracia e igualdade racial” ?!?

* Termo usado em Angola para se referir ao mulato como o resultado e fruto de uma relação entre não branco e branco e o que ficou e ou restou do colonizador e o representa contemporaneamente.
** Ato de “seqüestrar” para o serviço militar compulsório em épocas da guerra civil angolana.
*** Equivalente a vida militar no, fronte de combate.
**** Bairros periféricos de Luanda “Angola” sem urbanização.



Por: Nkuwu-a-Ntynu Mbuta Zawua



Referencia bibliográfica

ANONIMA, Carta dos mulatos a nação angolana. Nós mestiços em estamos em todos os sectores da sociedade.
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Ed. 6ª. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2006.
CARONE, Iray e BENTO, Maria Aparecida Silva (orgs) Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Ed. 3ª. Petrópolis, Vozes, 2002.
CARVALHO FILHO, Silvio de Almeida. As relações étnicas em Angola: as minorias brancas e mestiças (1961-1992)
FANON, Frantz. Peles negras mascaras brancas. Salvador, EDUFBA, 2008.
INSTITUO AMMA psique e negritude. Os efeitos psicossociais do racismo. São Paulo, AMMA/Imprensa Oficial 2008.
LACAN, Jacques. Complexos familiares. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1987.
MARRATZU, Priamo. Angola e Brasil: Realidade, Ficção e Democracia Racial
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte, Autêntica, 2004.
RESWEBER, Jean Paul. A filosofia dos valores. Coimbra, Almedina, 2002.
WARE, Vron (org). Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de janeiro, CEAB/Garamond, 2004.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

NEGRO QUANDO EU ERA AGORA SOU

Quando eu era negro, Era um morto vivo
Era o próprio pecado, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era o escravo
Era e vivia num inferno, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era um doente psíquico
Era sócio-psicopatológico, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era o e a super sexual
Era incapaz de ser monogâmico, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era a poligamia coisa de ancestralidade
Era o machista de carteirinha,Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era a mulher negra a minha coisa
Era o detentor de músculos brutos, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era emoção pura
Era negro a partir de um modelo branco, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era o branco meu ideal de ego
Era ser branco o meu sonho, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era ser branco o meu sonho
Era por isso vi um irmão se tornar branco, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era a brancura a norma
Era a cor alva a própria luz no fim do túnel, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era tudo menos um humano
Era o feio, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era o mal-cheiroso
Era o narigudo, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era o possuidor de cabelo ruim
Era um ectoplasma, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era uma aparência
Era um ser a partir de um guia, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era apenas negro
Era e não sabia que era, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era incapaz de manter uma família
Era especialista em largar uma mulher com filhos por criar, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era o maior exibicionista
Era o próprio fútil consumidor, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era ter um diploma universitário a saída
Era ter a “melhor” roupa, Quando eu era negro
Quando eu era negro, Era o representante da meritocracia
Aí quando eu era negro, NEM SEI O QUE REALMENTE EU ERA?!?




Por: Nkuwu-a-Ntynu Mbuta Zawua

sábado, 11 de outubro de 2008

A NÃO COPIA DIVINA U NEGADU

Fui condenado antes mesmo de ser concebido,
Condenado fui antes mesmo de vir ao mundo fui condenado por ser filho dos meus pais que são filhos de seus pais que são filhos de seus pais.
Condenado fui por aquele que de deus herdou sua semelhança, condenado apenas fui por seu eu mesmo.
Fui condenado apenas por ser filho de pessoas fugidas da guerra colonial, fui condenado por ser filho e irmão de quem sou, condenado fui por ter herdado deles minha condição étnica.
Fui condenado muito antes de vir ao mundo e quando meus pais pensaram em me colocar uma marca fui condenado, fui condenado até na hora de receber a principal marca de um ser humano, porque esta já havia sido condenada.
Fui condenado ao sair di útero, fui ao sair para rua pela primeira vez por ser o que sou e herdeiro de meus ancestrais.
Condenado fui por tentar conhecer o meu alienador e a mim mesmo, Fui condenado e classificado como radical e extremista, condenado classificado fui pelo meu alienador e pelos meus similares.
Fui condenado ao entrar e me sentar pela primeira vez nela e dentro dela, á escola. Condenado fui o tempo todo que me sentei e permaneci nela.
Fui condenado à auto me autodestruir, me esquivar dos meus, me esconder e a me auto-aniquilar enquanto sujeito membro de uma determinada nação.
Fui condenado e invisibilizado e politicamente excluído, apagado e condenado fui e sou da história oficial do Estado Nação que me deveria proteger e cuidar.
Fui espoliado condenado e estripado e violentado fui.
Condenado fui por ser o próprio pecado.
Fui condenado e crivado como escravo.
Condenado fui pela tal abolição.
Fui condenado mentalmente.
Assim o herdeiro de deus se mantém no controle.

ESTE SOU EU O CONDENADO DA TERRA?!?

Por: Nkuwu-a-Ntynu Mbuta Zawua

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A permanência da falta de fala e a psicopatologia do Afro-Africano

Intriga-me quando vejo como o preto nascido quer em

África quer em sua diáspora relutar em possuir um discurso sobre si?!?

Acerca mais ou menos de 4 anos, depois uma longa jornada em busca do livro Biko, estava eu imerso nas páginas do mesmo, quando me deparei com a seguinte frase “por mais que falemos a sua língua, os nossos códigos lingüísticos, símbolos e representações são outros, por isso estamos em desvantagem”.

Os norte-americanos nunca se reconheceram. Como poderiam? Isso é impossível, até que alguém invente termos originais. Enquanto nos contentarmos em ser chamados pelos termos de outrem, seremos incapazes de ser qualquer coisa senão tapeados por nós mesmos. WILLIAMS Apud APPIAH [2007]

Percebi logo quão difícil e complexo para um ser de cor viver em um mundo dominado por homens brancos: em primeiro lugar pela falta de uma auto-fala e pelas representações criadas sobre si fruto do imaginário euro-européu racista e racialista, e segundo por viver em sociedade multirracial e preso em redes de relações raciais semi-pacificas, controladas por liberais brancos (euro-européu não racista ou que se apresenta como tal em uma sociedade racista) brancos por serem mais acessíveis e mais fácil de atacar devido à própria natureza moderada.

Nossas experiências e idéias passadas não são experiências ou idéias mortas, mas continuam a ser ativadas, a mudar e infiltrar nossa experiência e idéias atuais. Sob muitos aspectos, o passado é mais real que o presente. O poder e a claridade peculiares das representações – isto é, das representações sociais – deriva do sucesso com que elas controlam a realidade de hoje através da de ontem e da continuidade que isso pressupõe. MOSCOVICI [2003]

Liberais esses supostamente defensores das lutas e causas dos afro-africanos. E que ao mesmo tempo se apresenta como espoliador usurpador da fala do afro-africano que por sua vez se sente constrangido em ter uma fala menos universal e, mas de recorte étnico nas soluções de problemas que se apresentam universais, mas de características especificas e atuam de forma especifica no tecido social, das sociedades multirraciais e étnicas. Que leva a criação de obstáculos, mas perversos, que colocam o afro-africano em uma situação de inércia. Devemos levar em conta os anos de doutrinação que começaram com o primeiro encontro do homem branco com o afro-africano no período das navegações, quando os euro-europeus se auto-colocaram como o padrão de ego. Este mecanismo de controle quase que automático por parte do homem branco é quase que automático e ou incapaz de viver de acordo com seus ideais, por se dar na esfera da psique. Por mais que se apresentem como indivíduos desprovidos de preconceitos (não racista ou que se apresenta como tal), isso de ordem moral individual e não coletiva o leva, a um comportamento racista, pois vive e se vive em um mundo onde o ideal de ego é euro-européu.

O dominador, detentor de poder, adota, segundo suas necessidades, o procedimento de controle da produção coletiva, sem abordarem diretamente os usos e costumes do povo dominado, extraindo “somente” o produto do trabalho alheio ou, o que tem sido encontrado amiúde, a dominação econômica, política e cultural/religiosa. É este o processo de sonegação do direito à auto-afirmação, fruto de um processo de des-legitimação político-sócio-cultural em relação à África e ao afro-africanos.

O peso de sua historia dos costumes e conteúdo cumulativo nos confronta com toda a resistência de um objeto material. Talvez seja uma resistência ainda maior, pois o que é invisível é inevitavelmente mais difícil de superar do que o que é visível. MOSCOVICI [2003]

Os afro-africanos foram “desenraizados, perseguidos, frustrados e condenados a assistirem a dissolução das verdades nas quais sempre acreditaram. Como resultado dessa antinomia que coexiste com o homem de cor. Podemos tirar duas conclusões: que os brancos consideram-se superiores aos afro-africanos e que o afro-africano deseja provar ao euro-europeu, a todo custo, o igual valor de seu intelecto. Tal provação levou e leva a um sofrimento vivenciado que atravessa os mecanismos psicológicos que a psique do afro-africano assim como de todo e qualquer ser humano tem funcionando em si, torna-se inconsciente e poderosamente ativo, porque instalado nas sombras do desconhecido.

Porém, apesar de a mente humana trabalhar da mesma maneira, existem diferenças que se dão devidas a ordens e ou fatores diversos. Fator genético que dá a cada um diferenças na percepção, desde a mais tenra idade, os relacionamentos que levam a cada pessoa, com singularidade, a inscrição em crianças os traços da sua cultura étnica e fatores sociais que influenciam de forma decisiva, através de professores, médicos, chefes, artistas, psicólogos, padres (aparelhos ideológicos de Estado) e etc., elementos que colocarão o modo de ver o mundo, geralmente já perpassado pela visão de mundo da classe dominante.

São esses aparelhos chamados aparelhos ideológicos de Estado. Esse quadro complexo e sutil vai, aos poucos, sendo introjetado pela pessoa, na medida em que a repetição dos pontos de vista, das normas, faz com que ela sinta a pressão do grupo circundante e dominante. ANDRADE [ ]

Assim o euro-europeu dominador quebrou a coluna dorsal do povo afro-africano dominado e oprimido, ou seja, os elementos essenciais para a manutenção da moral do povo afro-africano — sua cultura e religião. Essa violência tem levado o homem de cor, tanto em África quanto na Diáspora, a lutar e buscar reconhecimento, autorização, aprovação ou aval por parte do euro-europeu, para se sentir realizado ou capaz. Fanon adequadamente coloca:

O homem só é humano na medida em que ele quer se impor a um outro homem, a fim de ser reconhecido. Enquanto ele não é efetivamente reconhecido pelo outro, é este outro que permanece o tema de sua ação. É deste outro, do reconhecimento por este outro que dependem seu valor e sua realidade humana. É neste outro que se condensa o sentido de sua vida. FANON [2008]

Levando o próprio afro-africano a um comportamento fútil em todos os âmbitos e sentidos em especial por parte do homem de cor. Assim o afro-africano se apresenta e vive de comparação, onde há uma preocupação constante com a autovalorização e com o ideal de ego, sempre que entra em contato com um outro semelhante, advêm questões de valor e mérito. Humilhando o seu semelhante de diversas formas constituindo-se assim ele mesmo um “homicida”.

Querem impor sua ficção. Querem ser reconhecidos em seu desejo de virilidade. Querem aparecer. Cada um deles constitui um átomo isolado, árido, cortante; em passarelas bem delimitadas, cada um deles é. Cada um deles quer ser, quer aparecer. FANON [2008]

A pior herança dos povos africanos

Do período de cativeiro físico e agora mental

É a programação cognitiva que ate hoje os mata?!?

Tentem compreender o “sentido” e a direção dos fenômenos mórbidos sem levar em consideração este objetivo final, e vocês se encontrarão logo diante de uma multidão caótica de tendências, impulsos, fraquezas e anomalias, feita para desencorajar uns e suscitar em outros o desejo temerário de penetrar, custe o que custar, nas trevas, arriscando-se a voltar com as mãos vazias ou com um despojo. FANON [2008]

Após séculos de dominação e repetição sistemática desses preconceitos, através da escola, das famílias, dos meios de comunicação, é evidente que conseguiram lograr êxito quase total. Essa vitória até hoje verificada, encontra seu ápice quando o próprio afro-africano* passa a acreditar no que ouve da boca do dominador. A partir desse momento, introjeta essas idéias que transpassam seus sentimentos e inicia um processo de ódio aos afro-africanos mais próximos: sua família. Fica intolerante apontando os “defeitos” nos seus, feiúra em irmãos e irmãs, mau-caratismo em seu povo.

ANDRADE [ ]

Assim após a aceitação dos preconceitos do dominador euro-européu o afro-africano em posse de tal introjeção ataca com ferocidade a sua psicosomatología com a intenção de aniquilar e destruir sua auto-imagem e corpo, que leva a uma forma negativa de se expressar seu valor. Este fenômeno é facilmente obsersavo nos homens de cor com algum tipo de sucesso: financeiro, econômico, social, intelectual, esportivo, artístico, etc.

A alfabetização tem conseqüências importantes, dentre elas o fato de permitir um tipo de coerência que a cultura oral não exige nem pode exigir. GOODY Apud APPIAH [2007]

Daí vimos geralmente os pretos intelectuais criam escolas nos moldes ocidentais, quando lecionam tendem a ser, mas exigentes e a demonstrar que dominam e conhecem profundamente às teorias e conceitos postulados.

Sendo assim o afro-africano civilizado a estupefação chega ao cúmulo, pois ele está perfeitamente adaptado. Com ele o jogo não é mais possível, é uma perfeita replica do euro-européu. Chegando a realizarem exibições de citações de intelectuais brancos, diante uma platéia branca e entre os seus não instruídos, criando a imagem do reconhecido e vitorioso na luta pelo ideal de ego euro-européu, e os com sucesso econômico-financeiro em especial a se tornarem consumistas de primeira ordem e grandeza e valorizando um status corrompido do ser homem de cor.

Para entendermos como tais construções ocorrem, o caminho lógico é examinar a linguagem, na medida em que é a partir dela que criamos e vivenciamos os significados. Na linguagem está a promessa do reconhecimento; dominar a linguagem, um certo idioma, é assumir a identidade da cultura. A questão da língua também levanta outras questões mais radicais sobre seu papel na formação dos sujeitos. Assim, todo povo colonizado – isto é, todo povo no seio do qual nasceu um complexo de inferioridade devido ao sepultamento de sua originalidade cultural – toma posição diante da linguagem da nação civilizadora isto é, da cultura metropolitana”. FANON [2008]

O que é importante é a natureza da mudança, através da qual as representações sociais se tornam capazes de influenciar o comportamento do individuo participante de uma coletividade. É dessa maneira que elas são criadas, internamente, mentalmente, pois é dessa maneira que o próprio processo coletivo, penetra como o fator determinante do pensamento individual. MOSCOVICI [2003]

Assim, o gesto de escrever para si e sobre si mesmo e possuir uma fala própria se torna capaz de proporcionar um momento prazeroso de autovalidação ao homem de cor. Eis aqui, portanto, uma revolução que me é adequado abraçar – ajudar minha sociedade a recuperar a confiança em si e a se desfazer dos complexos dos anos e infâmia e autodegradação. KILLAM Apud AAPIAH [2007]

O meu esforço aqui é senão é guiado pela preocupação do círculo vicioso que aprisiona o homem de cor e pela tentativa de trazer a luz os dilemas desse círculo vicioso, segundo MOSCOVICI:

isso é assim, não porque ela (representação social/construções) possuiu uma origem coletiva, ou porque ela se refere a um objeto coletivo, mas porque, como tal sendo compartilhada por todos e reforçada pela tradição, ela constitui uma realidade social sui generis. Quando mais sua origem é esquecida e sua natureza convencional é ignorada, mais fossilizada ela se torna. O que é ideal, gradualmente torna-se materializado. Cessa de ser efêmero mutável e mortal torna-se, em vez disso duradouro, permanente, quase imortal. Quanto menos pensamos nelas, quanto menos conscientes somos delas, maior se torna sua influência. MOSCOVICI [2003]

* termo acrescentado por nós do original negro

Por: Nkuwu-a-Ntynu Mbuta Zawua

Referencias

ANDRADE, Dermeval Corrêa de. O negro: psique e cultura. São Paulo, Centro brasileiro de pesquisa em saúde mental. -----

APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a áfrica na filosofia da cultura. Ed. 2ª. Rio de Janeiro, Contraponto Editora, 2007.

FANON, Frantz. Peles negras mascaras brancas. Salvador, EDUFBA, 2008.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais investigações em psicologia social. Petrópolis, Vozes, 2003.

PECHEUX, Michel. (orgs) Línguas e instrumentos lingüísticos, v.2. Campinas, Pontes. 1999.

WOODS, Donald R. Biko. São Paulo, Best Seller, 1987.

SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro. Ed. 2ª. Rio de Janeiro, Graal Editora, 1990.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Utopia do desenvolvimento

É comum nos dias de hoje, ouvir-se nos meios de comunicação que agora em África, começa-se a notar um desenvolvimento visível e ainda, cria-se instantâneamente a idéia de uma possível futura ascensão econômica e hegemonia por parte de nós africanos. Identifica-se como causa o petróleo em África, em que a procura por suas jazidas e outros tantos minérios aumenta bruscamente para suprir os anseios e perspectivas insaciáveis das mega-indústrias dos ditos países do primeiro mundo, que procuram e disputam à liderança nos pólos de combustíveis que ditarão a capacidade e longevidade da mesma no mercado.

Esse assunto remete-me facilmente a um capítulo por nós vivenciado, não há muito tempo, capítulo esse, que ainda entristece o nosso íntimo, mas que se nós não enxergamos com outros olhos agora, iremos ser NOVAMENTE e ESTUPIDAMENTE enganados, saqueados até o último minuto e sem que nos apercebamos, iludidos, fazendo sempre o papel de coitados e vítimas da história.

Capítulo da expansão européia para África, que todos vocês muito bem conhecem, que tanto nossos ancestrais, como nossa terra foi brutalmente estuprada sem piedade e depois largada em choros que até hoje nós ouvimos e vemos quando nossos irmãos lutam entre irmãos devido à partilha arbitrária de África; quando num país com dimensões consideráveis,há falta de capacidade humana para poder ajudar no desenvolvimento, quando a fome nos assola de colheita à colheita e as doenças que antes não existiam, mas que no mundo de hoje matam-nos mais que no país de origem.

Esse jogo da economia global é sem dúvida a maneira mais moderna de exploração, em que os donos do capitalismo vêem África como abastecimento de suas maquinarias, e esses, alugam a nossa terra, implantam extractoras de tudo quanto é possível para sugar tudo que nos resta e vender a preços desproporcionais,que uma vez essencias para nós, pagamos o valor.

Porque será que esses investidores não constroem as fábricas em África?

Porque será que eles só agora é que vêem o potencial africano?

Dizem investir no país, enquanto a mesada que o nosso governo recebe é praticamente toda reinvestida em vias de escoamento da própria matéria-prima extraída, reinvestida em infra-estruturas para os trabalhadores das extractoras, em que os cargos de chefia pertencem todos aos estrangeiros, e alguém me diga que desenvolvimento intangível é esse, em que o investimento circula apenas em redor da matéria-preciosa?

Será que Europa e América são ingênuos ao ponto de quererem perder os seus clientes favoritos??

Vamos investir na educação, saúde, vias de comunicação, saneamento porque quando acabarem de fazer o trabalho ficaremos novamente largados, sem saber como manter o país erguido,mantendo o caminho em frente.Criemos leis e contratos que nos beneficiem, pois a matéria é nossa e é escassa, nós é que devemos ditar as regras, não deixar com que eles façam o preço e nos vendam 10 vezes mais caro.

Eles nos iludem enchendo o nosso ego com ar, pois o capital que gira em torno desses projectos é todo enviado de volta para as suas sedes.Não tenhamos medo de nos afirmar,questionar e dar a última palavra, chega de baixar a cara, encorajemos a prevenção e não a intervenção; examinemos a fundo o que leva um estrangeiro a voltar às colônias e acima de tudo rever esses todos os contractos que assinamos com terceiros por que em curto prazo até podem ser interessantes, mas as gerações vindouras pagarão o preço da vossa negligência, e nessa altura iremos correr o risco de ser mais um Iraque, que depois da exploração do petróleo fomentam uma notícia, destroem e retiram o pouco que eles criaram.

Moçambique ACORDA!

Por: Rodolfo Nogueira Dias. Disponível em: http://mozeconomics.blogspot.com. Acessado em: 07 de Agosto de 2008. Ás 21h35min

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A transição em Angola

Publicado na Visão em 31 de Julho de 2008

Dezasseis anos depois do último acto eleitoral, realizam-se no próximo dia 5 de Setembro eleições legislativas em Angola. Tudo leva a crer que serão eleições livres e que se, no pior dos casos, houver fraude eleitoral, ela não será significativa. É um acontecimento importante para Angola, para África, e para todos os democratas do mundo. Depois dos recentes e trágicos acontecimentos no Zimbabué e no Quénia (durante alguns anos considerado um país de exemplar transição democrática), a África precisa de experiências democráticas bem sucedidas. A importância especial de Angola neste contexto decorre do factor petróleo. Como demonstram os casos acima mencionados, o petróleo não é o único factor de instabilidade política mas é um facto que historicamente a relação entre petróleo e democracia tem sido de antagonismo. É assim no Médio Oriente e foi assim na América Latina até à última década. Em África, um simples relance pelos maiores produtores de petróleo é revelador a este respeito. São eles, em função das reservas comprovadas de petróleo (medidas em mil milhões de barris): Líbia (41,5), Nigéria (36,2), Argélia (12,3), Angola (9), Sudão (6,4).

Objectivamente, o facto de mediarem dezasseis anos entre dois actos eleitorais significa que Angola é um país em transição democrática. Em situações destas, duas perguntas se levantam. Trata-se de uma transição irreversível? Qual a sua natureza sócio-política? Para a primeira questão são identificáveis duas respostas. Segundo a resposta pessimista, tudo está em aberto. Usando uma metáfora aeronáutica, a transição será um avião a subir mas ainda longe de atingir a velocidade de cruzeiro. Pode atingi-la ou pode cair entretanto. Ao contrário, a resposta optimista entende que depois dos traumas da guerra - Angola esteve em guerra mais de quarenta anos (de 1961 a 2002) – e da experiência política desde 2002, a transição não pode senão ser irreversível. Há razões objectivas para considerar esta última resposta mais plausível. É certo que militam contra ela alguns factores de peso: um sector fundamentalista do MPLA para quem as eleições visam apenas legitimar o poder que não podem pôr em causa; o excessivo peso do sector militar (com generais muito ricos, envolvidos em todo o tipo de negócios, do petróleo aos bancos e ao imobiliário); uma questão tabu em Angola – a questão étnica – a qual por não ser assumida politicamente pode germinar descontroladamente. Apesar disto, as razões a favor da irreversibilidade da transição são bastante fortes. Primeiro, o MPLA está internamente dividido e se, por um lado, há os fundamentalistas, por outro lado, há aqueles que chegam a desejar que o partido não ganhe com maioria absoluta para aprofundar e alargar ainda mais a partilha de poder já existente. O próximo congresso do MPLA, marcado para Dezembro, será certamente revelador das tensões e tendências. Segundo, mesmo a classe empresarial, que em grande medida se criou à sombra do Estado e segundo processos que envolvem todo o tipo de favorecimento ilícito e de corrupção, deseja hoje mais autonomia e estabilidade, uma e outra só obtíveis em democracia. Terceiro, emerge uma pequeníssima mas influente classe média aspiracional que pretende ver reconhecido o seu mérito por razões que não as da lealdade política. Há hoje 100.000 estudantes universitários nas 12 universidades angolanas (a qualidade destas é outra questão). Finalmente, no interior das classes populares cresce um associativismo de base, relativamente autónomo em relação ao MPLA e que o MPLA só poderá cooptar se der credibilidade ao jogo democrático e à partilha do poder.

A segunda questão, a da natureza da transição, é bem mais complicada. No plano político, tudo leva a crer que durante algum tempo a democracia angolana será uma democracia vigiada ou musculada, sujeita à venalidade dos políticos que o petróleo incentiva, à definição consular da agenda política, à tentativa de absorver as energias da sociedade civil e de as pôr ao serviço do Estado e do partido no poder. Será, em suma, uma democracia de baixa intensidade. No plano institucional, o presidencialismo auto-centrado e o peso-inércia do controlo político sobre o sector administrativo contribuirão para atrasar a consolidação das instituições políticas e administrativas. As necessidades da partilha do poder (ora mais real, ora mais aparente) e a tentação de distribuição populista de recursos não serão favoráveis à emergência de políticas públicas e sociais credíveis. No plano social, é preocupante o aumento da exclusão social e a cada vez mais chocante convivência do luxo mais extravagante ao lado da pobreza mais abjecta. Apesar do vertiginoso crescimento económico dos últimos anos, Angola continua entre os 10 países com mais baixo desenvolvimento humano. Calcula-se que as reservas do petróleo terminarão dentro de 20 anos. Angola não tem muito tempo para se tornar uma sociedade mais justa e mais livre.

Por: SANTOS, Boaventura de Sousa. Disponível em: http://www.ces.uc.pt/publicacoes/opiniao/bss/204.php. Acessado em: 04 de Agosto de 2008. Ás 13h56min

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Alguma vez um preto inventou alguma coisa?

7 de Agosto de 2005


Por Ava Henry y Michael Williams*

Londres.- A resposta inevitável deve ser não, nunca, sempre e quando você acredite na ‘história oficial’. No entanto, os fatos contam uma história diferente.

Um homem negro, por exemplo, inventou esses semáforos sem os que o mundo não pode andar e o pai da medicina não foi Hipócrates, mas Imotep, um multifacético gênio negro que viveu dois mil anos antes do médico grego. É que os europeus ainda se negam a reconhecer que o mundo não estava à espera na escuridão para que levassem a luz. A história da África já era antiga quando a Europa começou a andar. Um mestre de ensino secundário da Gana, que visitou recentemente Londres, não poda acreditar que um homem negro tivesse inventado os semáforos. “O que?!”, perguntou com absoluta incredulidade. “Como pode um homem negro ter inventado os semáforos?!”

Bem, você pode imaginar a classe de educação que este mestre de ensino secundário ensinou e continua a ensinar a seus estudantes, não por malícia, mas por pura ignorância. Que tipo de educação recebem os africanos? Todos pensam, igual que este professor ganês, que os negros ‘não podem’ inventar nada, mas que compram as invenções dos outros. Um novo livro de texto, "Cientistas e inventores negros", publicado recentemente em Londres por BIS Publications, descarta totalmente a idéia que as pessoas negras não têm criatividade. Escrito em conjunto por Ava Henry y Michael Williams (ambos diretores da filial de Londres da BIS Publications), o livro está pensado para ser usado por crianças de entre 7 e 16 anos.

“Nós esperamos que os pais e mestres ajudem as crianças nesta tarefa de conhecimento e descoberta”, dizem os autores. As pessoas negras estão encontrando cada vez mais difícil entender por que, inclusive na era da abertura e liberalismo caracterizada pela Internet, continuam a negar o reconhecimento devido a inventores e cientistas negros.

E isto acontece apesar de que há documentação que prova que várias invenções importantes para o mundo têm sido obra da criatividade dos negros.

No passado

Escrevendo sobre as invenções e as descobertas africanas, Count C. Volney, o renomado historiador francês, escreveu: “Pessoas agora esquecidas descobriram, enquanto outros eram ainda bárbaros, os elementos das artes e da ciência. Uma raça de homens agora rejeitada pela sociedade por sua pele escura e seu cabelo enroscado cimentou no estudo das leis da natureza esses sistemas civis e religiosos que ainda governam o universo”.

Ao que o Dr. John Henrik Clarke, um historiador afro-americano, acrescenta: “Primeiro, as distorções devem ser admitidas. O fato lamentável é que a maioria do que nós chamamos agora de história mundial é só a história do primeiro e segundo florescimento da Europa. Os europeus ainda não reconhecem que o mundo não estava à espera deles na escuridão para que trouxessem luz. A história da África já era antiga quando a Europa nasceu”.

O Dr. Clarke é apoiado pelo estudioso e explorador alemão Leo Frobenius, que escreveu em sua principal obra, Und Afrika Sprach, publicada em 1910: “Nessa porção do globo, o anglo-saxão Henry Morton Stanley lhes deu nome de ‘escuros’ e ‘escuríssimos’... Mas antes das invasões estrangeiras, os africanos não viviam em grupos pequenos, mas em comunidades de 20 mil ou 30 mil habitantes, cujas estradas estavam escoltadas por esplêndidas avenidas de palmeiras, plantadas a intervalos regulares e de uma maneira ordenada”.

O trabalho de Frobenius inclusive foi melhorado por Thomas Hodgkins, um historiador britânico que escreveu depois: “Quando as pessoas falam, como ainda algumas vezes o fazem, sobre a África do sul do Saara como um continente sem história, o que eles realmente dizem é que essa porção da África tem uma história da que nós, os ocidentais, somos deploravelmente ignorantes...

Um deve admitir que ainda somos vítimas de uma mentalidade colonial: encontramos difícil de compreender que os africanos possuíssem sua própria civilização durante muitos séculos antes de que os europeus, começando pelos portugueses ao final do s. XV, concebessem a idéia de tentar vender-lhes a nossa”. A maioria dos historiadores aceita agora que os antigos impérios africanos da Gana, Mali e Songhay* tinham desenvolvido sociedade científicas.

Em Uma História do Desenvolvimento Intelectual da Europa, publicada em 1864, J. W. Draper escreveu sobre o desenvolvimento social e artístico imensamente superior dos mouros (os negros), que bem poderiam ter visto com arrogante desprezo as moradas dos governantes da Alemanha, França e Inglaterra, que naquele tempo apenas eram melhores do que seus estábulos”.

Recentemente, o jornalista britânico de TV Jon Snow, que se fez de um nome como jornalista na África na década de 1970, ficou assombrado ao encontrar numa biblioteca em Tombuctu (Mali), pilhas de livros fechados “faz mais de 500 anos” (suas próprias palavras em câmera).

“Nós (os europeus) gostamos de pensar que foi nossa cultura a que levou os livros a África, mas aqui em minhas mãos está a evidência que demonstra o contrário. Eles nos deram os livros”, disse Snow, enquanto revisava um deles. Os documentos demonstram que as primeiras universidades da Europa foram fundadas muito depois da Universidade de Sankore, em Tombuctu, cujos professores eram todos africanos.

O Antigo Egito

Até no antigo Egito, que era essencialmente um império negro cuja grande glória tem se atribuído com malícia aos árabes, os negros foram os que iniciaram o caminho das ciências.

Sir J. G. Wilkinson admitiu em seu livro Os Antigos Egípcios (1854) “que os antigos egípcios possuíram um considerável conhecimento da química e do uso do óxidos metálicos, como ficou evidenciado nas cores aplicadas a suas peças de vidro e porcelana; e eles, inclusive, estavam familiarizados com os efeitos dos ácidos sobre as cores eram capazes de lograr matizes nas tinturas das telas utilizando métodos semelhantes aos que nós empregamos em nossos trabalhos sobre o algodão”. Em seu livro Antigo Egito: a Luz do Mundo (1907), Gerald Massy admitiu que Imotep, o multifacético gênio negro, foi o verdadeiro “pai da medicina” e não, como se sustenta de forma errada, o médico grego Hipócrates. Imotep era um antigo egípcio que viveu aproximadamente em 2300 antes de Cristo.

Os documentos mostram que tanto a Grécia quanto a Roma tomaram seus conhecimentos de medicina dele. Ele era venerado em Roma como o “Príncipe da Paz na forma de um homem negro”. Também foi um arquiteto adiantado a seu tempo e serviu como primeiro ministro do rei Zoser. Hipócrates, o chamado ‘pai da medicina’, viveu dois mil anos depois de Imotep. No entanto, ainda o juramento tomado aos médicos da era moderna observa um código de ética médica baseado em Hipócrates e não em Imotep.

Esta rejeição ou falta de reconhecimento das invenções e descobertas dos negros a razão pela que pessoas como o professor ganês podem dizer que os negros não inventaram nada. Invenções tais como o papel, a elaboração de sapatos, as bebidas alcoólicas, os cosméticos, as bibliotecas, a arquitetura e muitos mais têm sido obra de pessoas negras muito antes do florescimento da Europa.

Arthur Weigall (Personalidades da Antiguidade, publicado em 1928) admite que Akenaton, o monarca negro do antigo Egito, foi a primeira pessoa em predicar a crença num Deus todo-poderoso, todo amor. “Nos primeiros anos de seu reinado -escreve Weigall- quando ainda era um rapaz, Akenaton promulgou uma doutrina que estava em seu aspecto exterior um culto dedooder invisível e intangível, chamado Aton. Fazia-se visível para a humanidade na luz do sul, geradora de vida, mas em seu significado mais profundo, simplesmente era a crença num único Deus, todo-poderoso, pai de todas as criaturas viventes e por quem todas as coisas tinham sua razão de ser”.

Sobre Akenaton, J. A. Rogers ("Os grandes homens de cor do mundo") escreveu: “Séculos antes do rei Davi, ele escreveu salmos tão bonitos como aqueles do monarca judeu. TTrezentosanos antes de Mohamed (chamado em Ocidente Maomé), ele ensinou a doutrina de um só Deus. Três mil anos antes de Darwin, ele se deu conta da unidade que atravessa todas as coisas vivas”. Quando Akenaton predicava sua crença num só Deus todo-poderoso, era considerado um herético. Assim, a crença moderna num Deus onipotente, tão cara para cristão, judeus e muçulmanos, na verdade é uma consequência do pensamento de Akenaton, cujas origens são muito anteriores à era judaico-cristã.

Na era romana, um homem negro, agora esquecido, Tiro (nascido para o 103 antes de Cristo) foi o inventor da escrita taquigráfica. Vários historiadores têm lembrado de Tiro como o secretário de Marco Túlio Cicerão. Cicerão amava ditar suas cartas a Tiro, que as escrevia em método taquigráfico. Quantos séculos passaram desde o ano 63 antes de Cristo até 1837 de nossa era, quando o inglês Isaac Pitman ‘inventou’ sua taquigrafia?

Outro historiador, Charles Rollin, conta que os egípcios, a raiz das inundações provocadas pelo Nilo, estavam obrigadas a medir frequentemente seu país e para esse propósito idealizaram um método que deu origem à geometria. Esse método passou do Egito para a Grécia, e se crê que foi Thales de Mileto quem o levou numa de suas viagens. E se algo faltava para assombro do mestre ganês, Esopo, que viveu no século 6 antes de Cristo, também era negro. Segundo Planudes o Grande, no século 14, um frei a quem devemos a forma atual das fábulas de Esopo, o descreveu “com lábios grossos e pele negra”. A influência de Esopo no pensamento e a moral ocidental é profunda. Platão, Sócrates, Aristófanes, Shakespeare, La Fontaine e outros grandes pensadores se inspiraram em sua sabedoria.

A Era Moderna

Sem dúvida, a invenção de um negro mais visível da era moderna são os semáforos. Garret Morgan, um afro-americano (nascido em Kentucky, EUA, em 4 de março de 1877), inventou o sistema automático de sinais de trânsito em 1923, e depois vendeu os direitos à corporação General Electric por 40 mil dólares. Morgan, o sétimo de 11 irmãos, só tinham uma educação escolar elementar, mas era extremadamente inteligente. Começou sua vida de trabalhador como técnico de máquinas de coser e rapidamente inventou um sistema para aperfeiçoar as máquinas, que vendeu em 1901 em menos de 50 dólares.

Morgan também inventou a primeira máscara de gás em 1912, pela que obteve uma patente do governo norte-americano. Seguidamente criou uma companhia para fabricar as máscaras. O negócio inicialmente foi bom, sobretudo durante a I Guerra Mundial, mas quando seus clientes descobriram que ele era negro, as vendagens começaram a diminuir.

Morgan tentou enganar seus clientes racistas inventando um creme que se aplicava para alisar o cabelo e passar por índio da reserva Walpole, no Canadá. Morreu em 1963, aos 86 anos. Outro dos grandes inventores negros foi Elijah McCoy. Tinha nascido em 2 de maio de 1843 em Colchester, Ontario, Canadá. Seus pais tinham escapado da escravidão da América do Sul e foram morar no Canadá com suas 12 crianças. Sendo jovem Elijah foi bom para a mecânica. Depois de estudar em Edimburgo (Escócia), regressou ao Canadá, mas não podia encontrar trabalho. Terminou nos Estados Unidos, onde conseguiu emprego como operário ferroviário em Detroit, Michigan. Era o encarregado de engordurar as maquinarias.

McCoy decidiu desenvolver um sistema para engordurar que não fizesse parar o funcionamento das máquinas e em 1872 inventou um sistema de gotejamento para máquinas de vapor que permitiu engordurá-las durante a marcha. Em 1929, quando McCoy morreu, tinha mais de 50 patentes a seu nome, inclusive, uma mesa de ferro e um rociador de grama. Seu dispositivo para engordurar as máquinas de vapor cimentou a revolução industrial do século 20.

De volta a casa na África, o cientista ganês, Raphael E. Armattoe (1913-1953), candidato ao Prêmio Nobel de Medicina em 1948, encontrou a cura para a doença do verme da água da Guiné com sua droga Abochi na década de 1940. Ele também fez uma extensa investigação sobre as diferentes espécies de ervas e raízes africanas de uso medicinal.

Os inventores negros do EUA

Só nos Estados Unidos, milhares de inventores e cientistas negros têm contribuído enormemente ao desenvolvimento nacional, além do mundial, sem nenhum reconhecimento. Esta é uma pequena mostra de inventores negros dos Estados Unidos na era moderna:

Em medicina, Charles R. Drew foi o pioneiro no desenvolvimento do banco de sangue. Em 1940, seu trabalho com o plasma e armazenagem abriu o caminho para o desenvolvimento dos bancos de sangue nos Estados Unidos. Em 1935, o Dr. William Hinton publicou o primeiro manual médico escrito por um afro-americano, baseado em sua investigação da sífilis.

O físico Lloyd Quarteman jogou um papel transcendental na equipe científica norte-americana que desenvolveu o primeiro reator nuclear na década de 1930 e iniciou a era atômica no mundo. Outro físico, Roberto E. Shurney, desenvolveu os pneumáticos de malha de arame para o robô da Apolo XV que tocou a superfície da lua em 1972.

George Washington Carver, um gênio agrícola, desenvolveu novos métodos de cultivo que salvaram a economia do sul dos Estados Unidos na década de 1920. Em 1927 fez imensas melhoras ao processo de fabricação de pinturas e colorantes. Também investigou ampliamente a terra e as doenças das plantas e desenvolveu 325 produtos derivados do amendoim, entre eles tintas, alimentos e produtos cosméticos.

Jan Ernst Matzeliger (1852-1889) inventou a ‘máquina sem fim’ que impactou grandemente na indústria dos sapatos do mundo. Obteve uma patente do governo em 1883. após vendeu os direitos à firma Consolidated Hand Method Lasting Machine Co. Quando morreu, em 1889, tinha outras 37 patentes a seu nome. Foi honrado pelos Estados Unidos em 1992 com um selo de correios com seu retrato.

O Dr. Ernest E. Just (1883-1941) estudou a fertilização e a estrutura celular do ovo antes da I Guerra Mundial. Ele deu ao mundo a primeira visão da arquitetura humana ao explicar como trabalham as células.

Granville T. Woods (1856-1910) inventou um novo transmissor do telefone que revolucionou a qualidade e distância à que podia viajar o som. A companhia de telefones Bell comprou a patente de Woods, cujo trabalho mais memorável foi a melhora que logrou para os trens. Primeiramente, ele inventou o “sistema de telegrafia ferroviário”, que permitiu enviar mensagens de trem a trem, mas em 1888 melhorou seu invento com um sistema que permitiu eletrificar os trens. Mais? A lista é inesgotável. Vejamos alguns outros inventores negros.

Richard Spikes desenvolveu a caixa de câmbios automáticos para os automóveis em 1932. George Carruthers, um astro-físico da NASA, desenvolveu a câmera remota ultravioleta que se usou na missão da Apolo XVI e que permitiu ao mundo ter uma visão das crateras da lua na década de 1960. Sua combinação de telescópio e câmera é ainda usada nas missões dos transbordadores.

Em 1986, a Dra. Patricia E. Bath, uma oftalmologista, inventou um dispositivo laser que tem se usado desde então na cirurgia de cataratas.

Em 1989 o Dr. Philip Emeagwali, um imigrante nigeriano nos Estados Unidos, realizou o cálculo de computador mais rápido do mundo, uma assombrosa operação de 3,1 bilhões de cálculos por segundo. Seu aporte tem mudado a maneira de estudar o aquecimento global e as condições do tempo e também tem ajudado a determinar como o petróleo flui sob a terra.

O Dr. Daniel Hale Williams foi primeiro em realizar, em 1893, uma operação de coração num homem. O químico Percy L. Julian, “um dos maiores cientistas do século 20”, segundo a revista Ébano, abriu o caminho para o desenvolvimento do tratamento do mal de Alzheimer e do glaucoma com seus experimentos em 1933. “Sua investigação na síntese da fisostigmina, uma droga para tratar o glaucoma, determinou que melhora a memória dos pacientes do mal de Alzheimer e serviu como antídoto do gás nervoso”, segundo Ébano.

Benjamim Banniker foi o primeiro inventor afro-americano notável. Ele fez o primeiro relógio nos Estados Unidos e experimentou em astrologia. Depois, foi assistente do francês La Flan, que planejou a cidade de Washington.

Quando La Flan deixou o país desencantado com os norte-americanos, Banniker recordou os planos e virou o verdadeiro responsável do desenho da cidade, uma das poucas dos Estados Unidos com ruas suficientemente amplas como para permitir o passo de dez automóveis ao mesmo tempo.

*Os songhay foram um povo negro-africano da beira do rio Níger meio, mistura entre tuareg e fulbe. No século 7 ou 8 criaram um império com capital em Kukya e depois em Gao (1010). Controlavam as rotas das caravanas do Saara central, que levavam a Tumbuctu o ouro do Sudão e regressavam com sal das salinas de Tombuctu, no norte do Saara. Em 1591 o império foi destruído pelos marroquinos.

*Este artigo foi elaborado por Cientistas

Negros e Inventores e editado no Reino

Unido por BIS Publications

Fonte:

http://www.vermelho.org.br/diario/2005/0807/0807_inventnegro.asp

http://www.uky.edu/StudentOrgs/AWARE/archives/invent.htm

sábado, 24 de maio de 2008

Relações Inter-Étnicas e o Racismo a Moda Angolana

Europeu

É engraçado o europeu ou o branco em Angola assim como em todos os lugares que foi e que por uso de força conquistou na era moderna, acaba ele mesmo se transformando no autóctone e transformando o autóctone em o estrangeiro, ou melhor, des-legitimando os direitos naturais de quem encontrou na parcela geográfica e legitimando seus atos sobre os membros da sociedade em que se tem o novo contato. Passando a legitimar como promoção da civilização européia todo seu ato contra o Outro, neste caso o autóctone, não devemos esquecer que o branco é o forasteiro, o estrangeiro, o que veio saquear e seqüestrar. Assim permaneceu de forma clara e aberta até as independências em África e no resto do mundo colonizado, ainda assim permanece de forma obscura em nossos dias.

Africano

O preto africano, como dominado, permaneceu e permanece dominado, não mais de forma física, e sim mental ou psique, sendo assim, carrega em si elementos, símbolos, significâncias que o levam sempre a exaltar de alguma forma o europeu ou o branco e os indivíduos que mais se aproximam fenotipicamente ao branco, neste caso os mulatos e outros tipos de mestiços, fruto do cruzamento étnico branco e demais grupos que, com isso a naturalização da autonegação e flagelo, tornam-se algo natural: como alisar um cabelo, refinar o nariz, preferir os nomes e línguas européias, vestimentas, termos preferência em se relacionar com brancas e na falta delas mulatas etc e etc...

Afro-Europeu

O mulato dentre todos, é o mais desolado, penso, pois é rejeitado de uma ou de outra forma pelo europeu e pelo africano por ser uma figura ambivalente, fruto de processos políticos sociais e não meramente, como se faz parecer, de traços “biológicos”. E afro-europeu é figura com papel central do racismo moderno em África e sua Diáspora. Textos como de Willie Lynch e outros cientistas naturalistas, físicos, químicos, teólogos, padres, pastores e etc,..

A Cara do Racismo em Angola

Parece difícil e uma insanidade falar de racismo em África, em especial Angola, algo que muitos angolanos acreditam ser algo inexistente. Faço um esforço e tento reviver minha infância e afirmo aos que assim pensam estarem enganados. Em meu tempo de iniciação educacional, o chamado naqueles tempos de “pré-cabunga” e primeira classe, era muito mais que comum os pretos com algum nome africano se sentirem envergonhados, ”inferiores” na hora da chamada em relação aos mulatos e pretos, com nome todo em português, isto porque passavam o resto do ano sendo os referenciais ou as chacotas da turma e até da escola, em alguns casos, por carregarem alguma marca mais forte de ser um africano: o nome e ou ainda escalificações no rosto, “nomes nativos que até hoje em algumas localidades e conservatórias e notários continuam a ser rejeitados em pro, de nomes de matriz ocidental”.

Os tidos como ideal de existência tinham nomes de brancos, eram mais aculturados e pertenciam a famílias, que em sua maioria, já eram quase que totalmente urbanas ou lutavam para o abandono de suas matrizes africanas, para assumir as matrizes européias, neste caso o português. Famílias estas que, por exemplo, comer um funji e outros pratos africanos eram coisas exóticas, feita somente aos sábados ou uma vez ao mês. Assim como também era comum àqueles que tinham mães e avôs que usavam panos não aceitarem que estes fossem a reuniões dos encarregados de educação pelo mesmo motivo: passar a ser o referencial e chacota da turma e escola.

Em relação à amizade, o legal era não ter amigos mulatos, mas os amigos de mulato eram logo chamados de caxicos dos mulatos, “esquebras dos colonos”, isso porque andavam sempre atrás e não à frente ou ao lado, as brincadeiras e etc. Em muitos casos, os mulatos não brincavam ou eram proibidos de estarem com os pretos, pois os pais não aceitavam tanto de um lado quanto outro — os pais mulatos porque não queriam seus filhos ficando pretos ou se misturando com pretos e os pais pretos porque os pais não queriam ver seus filhos como os esquebras dos colonos, isto porque sabiam o que representava para seus filhos pretos um mulato.

Não entendia muito bem, até porque meus avos viviam no mato, e assim como boa parte da família, só após algumas conversas com minha avó materna, algumas questões começaram a ser clareadas em minha psique isto porque tinha e tem uma fala ainda muito pesada em relação ao mulato. “Casar com mulato não, é melhor casar com um branco, pois o mulato é pior que o branco”, pois assim como em praticamente todas as paradas do mundo, o mulato é encarado como uma figura ambígua daí o jargão em Angola “o mulato tem sete vidas que nem gato”, pois o gato é encarado na maioria das culturas africanas como um ser do mal, o animal que facilmente se deixa enganar por espíritos do mal, tornando-se ele mesmo o próprio mal.

Certa vez, em uma das minhas viagens a Luanda, um fato me chamou muita atenção, na época existiam duas casas noturnas com maior evidência — o Palos e um Pub que o nome me foge agora no mesmo bairro. Em ambos o branco ou mulato e ou o preto que andasse entre os brancos e mulatos tinham prioridade na hora de entrar na casa, mesmo ela estando lotada ou não. E para o efeito da garantia do cumprimento da regra, os seguranças, sempre pretos e em muitos casos suburbanos, que em sua maioria, detentores de uma anseiam de ascender socialmente. Ser alguém com amigos e conhecido na city, o do musseque que quer ser o urbano a qualquer custo nem que para isso tem de barrar os de pele escura.

Práticas similares permanecem contemporâneas. Outro exemplo: fui ao Banco Espírito Santo Angola me informar sobre critérios e o que era necessário para abrir uma conta. Quando cheguei, fiquei assustado me perguntando se eu estava no Brasil ou em algum outro país das Américas: só havia brancos e mulatos atendendo, os pretos que vi eram duas senhoras da limpeza e os seguranças, entre várias outras coisas que poderia citar, para demonstrar a prioridade e preferências às pessoas de pele clara para ocupar cargos chaves.

Três fatos sociais identifiquei como chave: primeiro, a herança européia dos mulatos, por terem herdado uma educação melhor em relação aos pretos, em sua maioria foram patrões dos pretos e com isso trataram tal igual o branco fez o preto, ou seja, os mulatos reproduziram e herdaram as práticas racistas; segundo, a idéia de que tudo que é europeu/branco é bonito e interessante, por isso a tendência de um mulato rejeitar seu lado africano e preferir o europeu, sendo assim, em Angola e na falta de um branco, vai o mulato; o terceiro e mais importante, à luta entre as elites mulatas que desfrutavam da condição de filhos de brancos e com isso detentores de documentação, que sonhavam após a expulsão do branco tomarem o poder e manter o status quo é do outro lado uma elite de pretos que emergiram das lutas contra o colonialismo e que sempre foram tratados de forma diferenciada até a independência de Portugal, salvo aqueles que tiveram de renunciar à sua identidade para adquirir uma cidadania, os chamadas assimilados.

Outras coisas mais perversas mostram isso. Usando como referencial os 30 anos de guerra, que praticamente não gerou mutilados de guerras brancos e mulatos, ou porque a maioria, por ser neto e ou filho de português, tem a nacionalidade portuguesa, tendo facilitado na hora de sair do país ou evitado as chamadas rusgas do passado e ou ainda recenseamento militar. E quando não é essa a questão, o pertencimento a um grupo politicamente dominante dos segundo e terceiro escalão de governança nacional. (Como se sabe, ciências políticas e administração são os escalões mais importantes, pois fazem a ligação entre o escalão mais baixo para o primeiro.

Creio que esta prática é sabida hoje por muito de nós. O que recomendo é o inicio imediato das discussões sobre estas relações ambíguas no seio da sociedade angolana, pois, caso assim não se faça, teremos ainda problemas sérios, visto que, quando algum grupo étnico se sente de alguma forma ameaçada, o refúgio à identidade étnica e o extermínio do Outro se torna o último caminho possível para soluções de problemas de relações entre grupos étnicos distintos, visto que, no caso de Angola, os brancos e mulatos representam cerca de 2% da população. Exemplos recentes em África o Rwanda, na Europa os Bálcãs, e recentemente a África do Sul e etc etc...

Por: Nkuwu-a-Ntynu Mbuta Zawua

Negação do Outro, Racismo e suas Origens

“A academia ocidental e ocidentalizada
E sua estrutura medieval é incapaz de explicar
E entender a dor do não europeu
Assim as ciências humanas se mostraram
E se mostram preconceituosas
E racista por essência desde seus?!?”


Começo este devaneio com a fala acima pra mostrar e demonstração o meu primeiro e ponto de partida em relação à academia ocidental e ocidentalizada, que suas matrizes teóricas e pais fundadores de todas as áreas desde a Grécia antiga e Roma até os nossos dias foram e são racistas, por este motivo é que afirmo ser um erro os povos não europeus insistirem em uma forma, modelo e estrutura quer teórico quer estrutural para, constituírem suas “academias”. Não venho aqui afirmar e fazer figura de cabo eleitoral do contra em relação esta academia. - pelo contrario a partir de meu ponto de partida e ângulo de visão, como freqüentador dela, defendo que os não europeus (brancos de acordo a concepção eurocêntrico), devem freqüentar conhecê-la, estudá-la, desmascará-la e apresentarem uma nova configuração e alternativa a partir do ângulo do Outro (o não europeu).

Falar de racismo com certa propriedade ou pretensão de propriedade, pressupõe antes de tudo ser o homem letrado, treinado e preparado de acordo à instrução e modelo acadêmico eurocêntrico, o único capaz de realizar esta façanha. Quero deixar bem claro usando a celebre fala “só sei que nada sei” para expressar que não venho e nem tão pouco tenho a pretensão de esclarecer e chegar ao finito em relação ao objeto deste devaneio e sim trazer umas bases teóricas de forma a elucidar e clarear nossas mentes ávidas, pelo que li e vi, apresentados neste meio e ferramenta de interação digital, que apenas sou um ser fugindo da minha própria ignorância.

A discussão, visão e estudo do racismo e sua interpretação, por parte da academia durante todo o séc. XX, foi de duas bases e pilares: o holocausto judeu e a escravidão do africano da chamada África preta fazendo parecer e transparecer que tal comportamento é algo moderno e não milenar. Por este motivo os maiores defensores e disseminadores do racismo como, o conhecemos foram e são os intelectuais ou os formados e formadores de opinião, antropólogos, sociólogos, historiadores, psicólogos, biólogos, fisiologistas, físicos, químicos, economistas, etc. - com suas teorias e luta para uma manutenção de um status quo mundial.

RAÇA

“Num futuro muito próximo, em tempo medido em séculos, as raças civilizadas (brancos-europeus ocidentais) exterminariam as raças inferiores (os não brancos-europeus)”.
Darwin

A primeira classificação dos homens em raças foi a “Nouvelle division de la terre par les différents espèces ou races qui l'habitent” ("Nova divisão da terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam") de François Bernier, publicada em 1684. No século XIX, vários naturalistas publicaram estudos sobre as “raças humanas”, como Georges Cuvier, James Cowles Pritchard, Louis Agassiz, Charles Pickering e Johann Friedrich Blumenbach. Nessa época, as raças humanas distinguiam-se pela cor da pele, tipo facial (principalmente a forma dos lábios, olhos e nariz), perfil craniano e textura e cor do cabelo, mas considerava-se também que essas diferenças refletiam diferenças no conceito de moral e na inteligência, pois uma caixa cranial maior e ou mais alta representava um cérebro maior, mais alto e por conseqüência maior quantidade de células cerebrais).

O Evolucionismo e teoria da evolução

A teoria da evolução, também chamada evolucionismo, afirma que as espécies animais e vegetais, existentes na Terra, não são imutáveis. Em 1859, Charles Darwin publicou The Origin of Species (A origem das espécies), livro de grande impacto no meio científico que pôs em evidência o papel da seleção natural no mecanismo da evolução. Darwin partiu da observação segundo a qual, dentro de uma espécie, os indivíduos diferem uns dos outros. Há, portanto, na luta pela existência, uma competição entre indivíduos de capacidades diversas. Os mais bem adaptados são os que deixam maior número de descendentes.

Origem das raças

As mutações, as recombinações gênicas, a seleção natural, as diferenças de ambiente, os movimentos migratórios e o isolamento, tanto geográfico como reprodutivo, concorrem para alterar a freqüência dos genes nas populações de animais e são, assim, os principais fatores da evolução.

Raça político - científica

A definição de raças humanas é uma classificação de ordem social, onde a cor da pele e origem social ganha, graças a uma cultura racialista, sentidos, valores e significados distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial, ancestralidade e, em algumas culturas, genética. O conceito de raça humana não se confunde com o de subespécie e com o de variedade, aplicados, a outros seres vivos que não o homem (embora humanos e animais estejam exatamente sobre o mesmo tipo de seleção genética, apesar das pomposas fachadas pseudo-civilizatórias). Em alguns casos utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer relações com um padrão biológico. Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como população, etnia, ou mesmo cultura.

Em zoologia geralmente raça é um sinônimo de uma determinada subespécie, caracterizada pela comprovada existência de linhagens distintas dentro das espécies, portanto, para a delimitação de subespécies ou raças a diferenciação genética é uma condição essencial, ainda que não suficiente. Na espécie Homo sapiens - a espécie humana - a variabilidade genética representa 93 a 95% da variabilidade total, nos subgrupos continentais, o que caracteriza, definitivamente, a ausência de diferenciação genética. Portanto, inexistem raças humanas do ponto de vista biopolítico matematicamente convencionado pela maioria, o que não significa que esta hipótese é 100% imutável, como de fato nada o é em ciência. No “Código Internacional de Nomenclatura Zoológica” (4ª edição, 2000) não existe nenhuma norma para considerar categorias sistemáticas abaixo da subespécie.

Em biologia (Long e Kittles, 2003). Conceito Referência Definição Essencialismo Hooton (1926) "A raça é a grande divisão do gênero humano, caracterizado como grupo por partilhar uma certa combinação de características derivadas da sua descendência comum, mas que constituem um vago fundo físico, normalmente obscurecido pelas variações individuais e mais facilmente apreendido numa imagem composta."

População Dobzhansky (1970) "Raças são populações mendelianas geneticamente distintas. Não são populações individuais nem genótipos específicos, mas consistem em indivíduos que diferem geneticamente entre si." Taxonomia Mayr (1969) "Raça é um agregado de populações fenotipicamente similares duma espécie, habitando uma subdivisão da área geográfica de distribuição da espécie e diferindo taxonomicamente de outras populações dessa espécie.” Linhagem Templeton (1998) "Uma subespécie (raça) é uma linhagem evolucionariamente distinta dentro duma espécie. Esta definição requer que a subespécie seja geneticamente diferenciada devido a barreiras à troca de genes que persistiram durante longos períodos de tempo, ou seja, a subespécie deve ter uma continuidade histórica, para além da diferenciação genética observada”.

ETNIA/ O OUTRO

Uma etnia ou um grupo étnico é, no sentido mais amplo, uma comunidade humana definida por afinidades lingüísticas e culturais e semelhanças genéticas. Estas comunidades geralmente reivindicam para si uma estrutura social, política e um território. A palavra etnia é usada muitas vezes erroneamente como um eufemismo para raça, ou como um sinônimo para grupo minoritário.

Raça VS Etnia

Embora não possam ser considerados como iguais, o conceito de raça é associado ao de etnia. A diferença reside no fato de que etnia também compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, a afiliação tribal, a Religião, a língua e as tradições, enquanto raça compreende apenas os fatores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura, traço facial, etc.

Etnologia

A palavra "etnia" é derivada do grego ethnos, significando "povo". Esse termo era tipicamente utilizado para se referir, a povos não-gregos, então também tinha conotação de "estrangeiro". No posterior uso Católico-romano, havia a conotação adicional de "gentio". A palavra deixou de ser relacionada com o paganismo em princípios do Século XVIII. O uso do sentido moderno, mais próximo do original grego, começou na metade do Século XX, tendo se intensificado desde então.

Palavra usada muitas vezes erroneamente como um eufemismo para raça, ou como um sinônimo para grupo minoritário. Embora muitas vezes os dois conceitos estejam associados, a diferença entre ambos reside no fato de que etnia compreende os fatores culturais, como a nacionalidade (enquanto pertencentes a um estado nação e a nação enquanto um grupo social), a afiliação grupal, a religião, a língua e as tradições, diferenças fenótipos e enquanto raça compreende apenas os fatores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura, traço facial, etc.

RACISMO

O racismo é a crença do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias, e determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré-concebidas onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos outros de acordo com sua matriz racica. A crença da existência de raças superiores e inferiores foram, utilizado muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade.

Preconceito

Preconceito é um juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória contra pessoas ou lugares diferentes daqueles que consideramos nossos. Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são: racial e etnocentrismo, sexual: sexismo, machismo e femismo, lingüístico, homofobia, transfobia e heterossexismo, xenofobia, discriminação, chauvinismo, social, estereótipo e intolerância,

Genótipo X Fenótipo

É a constituição genética de um individuo e o fenótipo é a expressão observável de um genótipo como um caráter morfológico, bioquímico ou molecular. Fenótipo são as características visíveis de um indivíduo ou organismo, que são definidas pela expressão do seu genótipo (isto é, do seu patrimônio hereditário), somada à influência exercida pelo meio ambiente.

O racismo histórico e os textos sagrados

Encontramos evidencias claras da existência do que podemos chamar de proto-racismo. No mais antigo texto da trilogia dos livros sagrados indianos os “Veda” a raça preta é apresentada em duplo contexto o conflito e o maléfico, o Rig-Veda composto entre 1000 e 500 a.c demonstra a impossibilidade de sustentar uma tese de que o racismo era um fenômeno desconhecido na antiguidade. Encontramos nestes textos autodenominações de “tribos” leucodérmicas invasoras procedentes do sul do Irã e da Ásia central os ária ou arri (os de pele nobre) e seus oponentes os pretos dravidianos são designados globalmente por dasyu (denominação coletiva de preto) ou anasha (gente de nariz chato).

Assim o Rig-Veda relata que Indra líder dos ivasores arianos, transformado em semi-Deus ordenou seus súditos guerreiros para “destruir” o dasyu” e eliminar a pele preta da face da terra. Neste texto a descrição de combates entre os brancos e os autóctones os pretos em uma “luta entre a luz e as trevas”. Da mesma forma encontramos referencias ligadas a conflitos e malefício nos demais textos sagrados, a bíblia, o alcorão, a torá entre outros.

A Bíblia, o livro de judeus e cristãos, não a condena a escravatura. Quando ao racismo, as posições são mais equivocas. O Cristianismo, por exemplo, defendia inicialmente que todos os homens eram filhos de um mesmo Deus não se distinguindo quando à sua natureza, mas sim quando à sua condição social. Maomé, o profeta do Islamismo, não condenou a escravatura, possuindo e comercializando inclusive escravos. Fato que tendeu a favorecer a aceitação da escravatura entre os muçulmanos. Em todo o caso estes não reconhecem distinções raciais, mas apenas religiosas.

Grécia-Roma “Europa, Norte de África Oriente Médio e Ásia meridional”.

Gregos e romanos entre os povos antigos, sabe-se que foram profundamente xenófobos, tiveram seus alicerces na explicação distintas do ser humano entre inferior e superior, bárbaros e civilizados e os que nasceram para serem escravos e os que nasceram para serem livres, e todo estrangeiro era chamado de bárbaro e assim constituíram suas sociedades baseada na escravidão do Outro. Assim podemos encontrar em varias obras e pensamento destes povos a idéia fundamentada sobre o racismo o que mostra que para os gregos e romanos tanto a natureza quanto a inteligência humana era definida abertamente segundo critérios baseados no fenótipo em obras como a Ilíada de Homero referencias sobre o racismo entre a cor clara “xantus” e a cor preta “melantus”, em Aristóteles sua fisiognomica (procedimento que baseado na observação da anatomia e no fenótipo que conjugado dariam uma visão da personalidade humana).

E a partir destes princípios que as características dos africanos foram frequentemente catalogados de maneira negativa à medida que a disciplina cientifica se desenvolvia e se desenvolveu é racialmente determinada fixando qualidades e defeitos morais do ser humano segundo fenótipo segundo o qual a cor demasiada preta seria a marca dos covardes e a cor rosada naturalmente enunciada as boas disposições o que leva a designação genérica do africano como “etiop” cara queimada”, o que desconstrói a idéia de que o racismo é um fenômeno moderno a partir do processo de escravidão do africano pelo europeu. Na antiga Grécia foi criada um pensamento que caracterizava o Outro como o monstruoso ou as “raças monstruosas” porque imaginavam existir em lugares distantes (África/Egito e Etiópia, Índia) raças ou povos com características monstruosas (pessoas com cabeça de cachorro (cynocephali); sem cabeça (blemmuae); com apenas uma perna (sciopods); canibais (antropophagi); pigmeus e raça de mulheres de apenas um único seio, encontramos essas evidencias claras na obra do antigo escritor romano Plínio “ A Historia Natural”. Pensamento criado para justificar as teorias sobre a influencia climática, pressupondo que as pessoas que habitavam lugares extremamente frios ou quentes não poderiam ser considerados totalmente humanos.

“Quem acreditaria nos etíopes antes de vê-lo”
Plínius

Na Antiguidade Clássica houve grandes debates sobre a escravatura, nomeadamente se escravos eram-nos por natureza (tese racista) ou por condição social. No primeiro caso partia-se do princípio que tinham uma natureza diferente dos outros seres humanos; no segundo caso, a sua natureza era idêntica, mas o que mudava era apenas a sua condição social, devido às causas mais diversas (guerras, dividas, raptos, etc). Na antiga Grécia, filósofos como Platão e Aristóteles (séc.IV e III a.c.), procuraram fundamentar a escravatura em aspectos particulares da natureza humana dos escravos. A sua argumentação racista que estava, contudo longe de ser aceite. A escravatura era em geral entendida como um ato de violência do mais forte sobre o mais fraco.
Em resumo, podemos dizer que até ao fim da Idade Média, admitia-se que todos os homens podiam ser livres ou escravos, não estando esta condição inscrita na sua natureza. A discriminação era justificada por diferenças culturais, e, sobretudo por diferentes condições sociais entre os indivíduos.

“A pior herança dos povos africanos
Do período de cativeiro físico e agora mental
É a programação cognitiva que ate hoje os mata?!?”


O Racismo Moderno

As primeiras concepções racistas modernas surgem em Espanha, em meados do século XV, em torno da questão dos judeus e dos muçulmanos. Até então os teólogos católicos limitavam-se aqui a exigir a conversão ao cristianismo dos crentes destas religiões para que pudessem ser tolerados. Contudo, rapidamente colocam a questão da “limpieza de sangre” (limpeza de sangue). Não basta convertê-los, “limpando-lhes a alma”, era necessário limpar-lhes também o sangue. Só que acabam por chegar à conclusão que este uma vez infectado por uma destas religiões, permaneceria impuro para sempre. A religião determina a raça e vice-versa.
No século XVI esta concepção é estendida aos povos de africanos de pele preta e os das Américas. Nenhuma conversão ou cruzamento destas raças, afirma o espanhol Frei Prudêncio de Sandoval, é capaz de limpar a sua natureza inferior e impura. A única cura possível, nestes casos, é o extermínio. Ainda no século XVI, surge na França nova concepção racialista que será retomada por outros ideólogos racistas mais recentes. Até ao século XVII, tanto um branco como um preto podiam ser vendidos como escravizados

Teorias Racistas Contemporâneas

As teorias contemporâneas racistas surgem no século XVIII. Os cientistas do tempo esforçaram-se por identificar e classificar as diferentes raças. Umas são consideradas inferiores (em especial a raça preta africana) e apenas uma é assumida como superior (a raça branca européia). E a escravidão passa a ser recusada entre brancos, mas aceitável para os pretos.

No século XIX, as teorias racistas conhecem um enorme desenvolvimento. Superioridade da raça “ariana”. Em 1854, o diplomata francês Arthur de Gobineau publicou um livro acerca da “Desigualdade das raças Humanas”, onde defendia que a raça “ariana” era superior a todas as outras, embora contivesse algumas “impurezas” devido a misturas com raças inferiores. Em 1899, o germano-inglês H.S.Chamberlain, publica um livro onde defende que a raça “ariana”, conduzida pelos povos germânicos, haveria de salvar a civilização cristã européia do seu inimigo, o “judaísmo”. Com base nesta idéia se desenvolverá na Alemanha, as teorias racistas que Adolfo Hitler (morto em 1945) será o principal executor e que levaram ao extermínio e a escravização das raças que considerava “inferiores” (judeus, árabes, negros, ciganos, etc) e outros seres humanos considerados degenerados (homossexuais, deficientes, etc).

Darwinismo Social. A teoria sobre a geração e evolução das espécies de Charles Darwin, trouxe elementos novos para a fundamentação da desigualdade entre os homens. Com base nestas idéias originou-se o chamado darwinismo social que defendia o direito natural dos mais “fortes”, governarem os mais “fracos”. No século XIX houve uma tentativa científica para explicar a superioridade racial através da obra do conde de Gobineau, intitulada Essai sur l'inégalité des races humaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas). Nesta obra o autor sustentou que da raça ariana nasceu à aristocracia que dominou a civilização européia e cujos descendentes eram os senhores naturais das outras raças inferiores. As últimas descobertas sobre o DNA foram concludentes sobre a falsidade deste tipo de argumentos o que não amputa seu caráter político-social.


“O processo de dês-civilização do homem preto
É o caminho para real libertação?!?”

Referencias

MOORE, Carlos. Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. Belo Horizonte, Mazza Edições, 2007.
BURKE, Peter. Testemunha ocular: historia e imagem. Bauru, EDUSC, 2004.
HOBSBAWM, Eric. Nações e Nacionalismo Desde 1780: Programa, Mito e Realidade. Ed. 2ª. São Paulo, Paz e Terra, 1998.
___ . A invenção das tradições. Ed. 5ª. São Paulo, Paz e Terra, 2008.
BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro, Contra Capa, 2000.
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas - Reflexões sobre a origem. São Paulo, Edições 70, 2005.


Por: Nkuwu-a-Ntynu Mbuta Zawua